terça-feira, 8 de abril de 2008

Por uma cultura de Ética e Cidadania

Por Uma Cultura de Ética e Cidadania

A humanidade em geral, e os portugueses em particular, encontram-se face a uma dinâmica sócio-económico-cultural que, a não ser alterada, vai tornar ausentes das relações humanas valores tais como a ética e a cidadania.
Os alertas têm vindo a ser dados por vários articulistas nos mais alargados órgãos de comunicação social, mas sem consequências face ao autismo que caracteriza as actuais estruturas do poder político. Em apoio a esses alertas, sinto que é minha obrigação de cidadão dar testemunho público de que não quero partilhar na construção dos caminhos que conduzem à selva e à desumanidade.
Não podemos continuar passivos com a introdução de novos modelos de escravatura, quer seja na China, na Rússia, nos Estados Unidos da América ou na União Europeia, baseados na precariedade de emprego, na aceitação tácita de elevados níveis de desemprego, na prática de salários e pensões que não permitem as condições básicas duma vida digna, em contraste com remunerações escandalosamente elevadas que vêm ao conhecimento público e, ainda, com o aumento alarmante da pobreza, da exclusão social e do nível angustiante de idosos e crianças abandonadas.
Não podemos continuar passivos com o roubo do património do Estado praticado nas diferentes formas de gestão e alienação de entidades públicas, assim como com o esbulho praticado no fornecimento de serviços públicos essenciais aos cidadãos e, ainda, com o escândalo do aumento das assimetrias de desenvolvimento regional em consequência de decisões injustas da Administração Central.
Não podemos continuar passivos com a aceitação, pela comunidade política internacional, da violação dos direitos humanos universalmente consagrados, de que o exemplo mais recente é a tortura como processo de obtenção de declarações a detidos, ao arrepio de tratados e convenções internacionais de que somos parte.
Não podemos continuar passivos com o branqueamento de comportamentos ilícitos por parte de dirigentes com as mais altas responsabilidades políticas, obtendo benefícios políticos e materiais, quer sejam portugueses ou de outras nacionalidades, para os quais o “estado de direito” se tem revelado ineficaz e, até, complacente, com a agravante de se assistir ao assalto, por parte de lobbies específicos de natureza económica, sexual e outros, aos lugares influentes do sector público.
Não podemos continuar passivos com a leviandade e o egoísmo em que assenta o actual modelo de administração pública, assumindo encargos volumosos de utilidade questionável e atirando para os vindouros o seu pagamento, hipotecando o futuro das próximas gerações, esquecendo, além do mais, que nelas estarão os nossos filhos e netos.
Não podemos continuar passivos perante a opção obsessiva pela repressão como único caminho para o combate à delinquência e à criminalidade, esquecendo que a cultura dos valores da honra, da vergonha e do exemplo, decorrentes dum modelo educativo e social que privilegie a vertente humanista, é o melhor suporte para uma cidadania de paz e concórdia.
Não podemos continuar passivos perante isto e muito mais, pelo que, não me revendo no actual sistema político, económico, social e cultural em que o mundo está mergulhado ( a igreja católica tem alertado insistentemente para a necessidade da construção duma nova ordem) , nem nos seus dirigentes, dou testemunho público de que os pilares do caminho que quero ajudar a construir têm de assentar na força, na beleza e na sabedoria de pessoas que anseiam um futuro em que a liberdade, a solidariedade, a tolerância e a igualdade não sejam palavras vãs.

Janeiro de 2006

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