terça-feira, 8 de abril de 2008

Eu sou da Amnistia Internacional. É Desonra?

E U S O U D A A M N I S T I A I N T E R N A C I O N A L .

É DESONRA ?

Estou pasmado! A menos que a citação referida no “Público” de 18/12 não corresponda à verdade (e o “Público” não costuma mentir), atribuída a lorde Browne-Wilkinson, de que “... consideramos que lorde Hoffmann, que não divulgou antecipadamente as suas ligações à Amnistia, estava impedido de participar neste processo”, é urgente clarificar a opinião pública sobre se estamos na presença de uma organização sinistra e tendenciosa, cujos membros estão impedidos de participar em certas funções públicas, nomeadamente tribunais. Ou então é lorde Browne-Wilkinson que tem de ser esclarecido sobre o que é a Amnistia Internacional.

E o que é a Amnistia Internacional?

É uma organização independente de qualquer ideologia governamental, orientação política ou credo religioso. Não apoia nem se opõe a qualquer sistema governamental ou político, nem apoia ou se opõe às opiniões das vítimas, cujos direitos procura proteger.
Trabalha na base da Declaração Universal dos Direitos Humanos e das Convenções, Pactos e Tratados de Direitos Humanos.
Logo, a Amnistia Internacional centra o seu trabalho nos referenciais de direitos humanos aprovados pelos governos.

Sendo assim, importa questionar se é motivo de suspeição trabalhar a favor de ideais aceites pela comunidade internacional. Será que os diplomatas que trabalharam na redacção desses instrumentos também são suspeitos? Será que todos aqueles que ainda recentemente se congratularam com as comemorações do 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos são suspeitos?

Então quem são os isentos? Os que defendem e praticam a tortura, a censura , os “desaparecimentos” e as execuções extra-judiciais? Ou aqueles que vêm estas questões como coisas que lhes não dizem respeito até serem por elas atingidos? (E nessas alturas são os que mais se indignam por estarem a ser desrespeitados. No entanto, até esse momento, mantiveram um distanciamento de conveniência).


Sobre o comprometimento com os direitos humanos universalmente reconhecidos é bom que haja uma clara “separação das águas”. E os suspeitos têm de ser aqueles que olham o seu semelhante sem lhe reconhecer a dignidade que para si reclamam.

Não podem ser os Pinochet’s a julgar quem viola os direitos humanos, Quem autorizou a tortura, a censura, a limitação das liberdades, as violações por cães amestrados, os “desaparecimentos” e as execuções extra-judiciais, não pode acusar de suspeição aqueles que não defendem estes atropelos brutais à dignidade das pessoas e que militam para que nunca mais tal se verifique.

A não ser assim, é importante saber quem são os juízes e outros responsáveis da Administração Pública que, em todo o Mundo, são membros da Amnistia Internacional impedindo-os de continuarem nos cargos. E olhem que são muitos milhares.

Eu sou membro da Amnistia Internacional. É desonra?


(Carta publicada no jornal “Público” em 20/12/99, sobre o caso Pinochet)

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