terça-feira, 8 de abril de 2008

O Triunfo dos Porcos

O Triunfo dos Porcos

Com mais ou menos felicidade, o Triunfo dos Porcos é uma das traduções que é dada a um dos mais conhecidos livros de George Orwell. Este escritor, falecido em 1950, não teve a felicidade de viver no tempo presente, já que, se fosse vivo, não teria necessidade de substituir os detentores do poder por porcos, pois temos hoje no poder quem se adeqúe perfeitamente ao cenário criado por Orwell.

Triste realidade aquela em que vivemos. Os valores que erigimos, nos quarenta anos seguintes à segunda guerra mundial, e que constam dos inúmeros tratados, convenções e declarações internacionais são letra morta para os porcos, pois, como animais iletrados, não os compreendem. A solidariedade, a tolerância, a fraternidade e o espírito de servir são, pelos porcos, substituídos por aquilo que só sabem fazer: servir-se. A gamela onde se servem é sempre pequena para o seu apetite. E é vê-los clamar: a ração é baixa, pois temos de atrair os mais competentes e estes só são sensíveis à quantidade de ração, já que os valores humanos, para eles, não contam; têm de aumentar as nossas rações e os nossos parentes e amigos também têm de comer da gamela. E lá vão criando gamelas e mais gamelas, exigindo que os novos escravos lá ponham as rações. Se para isso se tem de diminuir as comparticipações nos custos com a saúde, se houver que diminuir as comparticipações com a segurança social, se piorar a qualidade do sistema educativo, se o sistema fiscal persegue o pequeno contribuinte de forma vampiresca, pouco importa. A ração para os detentores do poder é que tem de aumentar! Quer seja em remunerações, ajudas de custo, subsídios diversos, viaturas de uso pessoal, cartões de crédito, telefones gratuitos, viagens com companhia (aprovadas por unanimidade), etc, etc, etc... . E é vê-los debitar teorias para se produzirem mais rações. “É preciso criar sinergias!” dizem uns; “Temos de fazer parcerias!” dizem outros; “Os escravos têm pouca produtividade!” concluem enfurecidos.

E os valores emanados da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos Pactos Internacionais dos Direitos Civis, Políticos, Económicos, Sociais e Culturais ? Estão fora do tempo, pois foram criados para uma sociedade de pessoas, mas em “O Triunfo dos Porcos” os porcos são iletrados e, portanto, o que não se percebe não se pratica. Os porcos são, por natureza, ignorantes, obcecados, incultos, em suma: primários. E em vez de liberdade temos repressão (nunca o Estado teve tantos servidores nos organismos dedicados à repressão), em vez de solidariedade temos egoísmo, em vez igualdade temos desigualdade, em vez de fraternidade temos solidão, em vez de democracia temos plutocracia.

E como conseguir fazer vencer que a realidade é que os seres humanos competentes dedicam-se por princípios e não pela quantidade de ração? Aqueles cuja motivação é o tamanho da gamela nunca terão a sua presumida competência preocupada com o servir a comunidade, mas sim em servir-se da comunidade.

A gravidade do momento é tal que a modificação deste estado de coisas já parece só ser possível com uma nova ordem política, económica, social e cultural. Mas os porcos não estão para aí virados pois isso fá-los-à saltar das gamelas. E como correr com os porcos?

Tempos difíceis se avizinham.

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