segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Cerâmica do Douro na cerâmica tradicional

A CERÂMICA TRADICIONAL NOS REFLEXOS DO TEMPO


Tem-se vindo a assistir, como de uma fatalidade se tratasse, a um baixar de braços, ou a uma despreocupação involuntária negligente, perante o definhamento das actividades tradicionais, que se encontram em processo adiantado de agonia, tendo alguns dos seus membros já mesmo falecido.
Esta referência às actividades tradicionais é no sentido de preservação e continuidade dum legado histórico, com profundo conteúdo cultural e, obrigatoriamente, com a mais elevada qualidade possível. Logo, não estão incluídas actividades desenvolvidas ao abrigo do chapéu do artesanato tradicional mas que são a perpetuação do artesão “pobre, sujo, roto e analfabeto”, ou o pretenso Kitsch, ou cópia mal feita, que parasita, de forma oportunista, o que de nobre há no conceito de actividades tradicionais.
A agonia das actividades tradicionais recebe um forte contributo do crescente economicismo vigente no modelo político, económico, social e cultural, em que o factor preço se sobrepõe a critérios históricos, culturais e tradicionais, como, também, pela inexistência dum sentir forte de defesa de valores que não os de um utilitarismo falsamente barato.
As tentativas de fazerem singrar na comunidade actividades que são os “Reflexos do Tempo” e que constituem um legado que temos de respeitar e valorizar, estão condicionadas pela sensibilidade dessa mesma comunidade a valores profundos que a identificam, assim como ao carácter efémero ou perene desse sentimento.
A afirmação das actividades tradicionais vem a encontrar dificuldades acrescidas, pois a famigerada globalização tem imposto modelos de comportamento social, cultural e económico, que dificultam tudo aquilo que se afasta da padronização dominante. Sofia de Melo Breyner Andresen alerta-nos que “ A civilização em que estamos é tão errada que nela o pensamento se desligou da mão”.
Importa, pois, que assumamos a responsabilidade de manter vivo, valorizando-o, o legado que nos foi deixado, respeitando o esforço dos nossos antepassados. A melhor homenagem que lhes podemos fazer é não deixar perecer aquilo que tão carinhosamente construíram.
Vila Nova de Gaia foi o berço da cerâmica tradicional portuguesa, tendo Teixeira Lopes e Soares dos Reis dado um contributo relevante para tal. Ainda há cem anos, mais de duas dezenas de importantes fábricas davam à cerâmica tradicional um lugar de destaque na vida da região e do país.

Importa que o futuro próximo passe pelo aumento de sensibilidade para com os valores culturais, históricos e tradicionais. As globalizações da economia e da sociedade não podem assentar sobre o caixão dos valores identificativos dos povos. A vivência das comunidades deve preservar as sua raízes, não se impondo nem esmagando os valores das outras comunidades. Deve ser estimulada a permuta mas nunca o derrube ou a aniquilação.
O cuidado que ainda existe na fidelidade à continuidade das tradições cerâmicas, pelo que pressupõe de actualização, tendo em conta os novos conhecimentos tecnológicos e a consideração dos valores culturais como dinâmicos, garante que se a comunidade assumir as responsabilidades de apoio e acarinhamento, poderemos voltar a contar com uma riqueza de que a região se orgulha. A afirmação dos valores afectivos tem de vencer a enganosa sedução do mais barato, do incaracterístico, do que não presta.
Que não se apague da memória colectiva a necessidade de preservação da cerâmica tradicional e de todas as actividades tradicionais cujos valores identificativos o justifiquem. A morte destas referências é , também, a morte de referências que são parte da nossa vida.
Sigamos o que Alexandre O’Neil expressou no seu poema de grande profundidade:
E defendo-me da morte
Povoando de novos sonhos
A vida.

1 comentário:

tranquilo disse...

Onde se pode comprar o livro "A Cerâmica no Dia a Dia"?